Um grupo de 10 pesquisadores, incluindo o Prof. Dr. Wendel Coura Vital, docente permanente do PPG CiPharma, publicou um estudo multidisciplinar na revista PeerJ sobre a disseminação do Covid-19 no Brasil. Através de um modelo matemático, os autores descreveram a dinâmica de propagação do novo coronavírus a partir de aeroportos internacionais brasileiros e depois para outras cidades menos conectadas pela rede de transporte aéreo. O modelo gera previsões alarmantes para a transmissão no Brasil, mas aponta para possíveis soluções desde que sejam implementados protocolos severos de vigilância de entrada nos aeroportos e o monitoramento das pessoas que chegam das regiões de risco.
Segundo o estudo, a rápida propagação do vírus ocorrerá primeiramente nas grandes cidades da região Sudeste e em outras capitais com concentração do transporte aéreo (Salvador, Recife, Brasília, Fortaleza, Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis) na mesma época. Esse padrão de propagação é preocupante, pois levará a saturação dos serviços públicos de saúde. Além disso, considerando a rede viária que não foi considerada no modelo, essas cidades possuem as maiores e mais importantes estradas conectadas a esses aeroportos. Sendo assim, as cidades estarão mais vulneráveis e mais cedo e, portanto, provavelmente irão espalhar a doença mais rapidamente.
O trabalho prevê que a estrutura da rede aérea causaria duas ondas de contaminação, com rápida disseminação da doença no país. Considerando que o primeiro caso no Brasil foi registrado em 26 de fevereiro, a primeira onda seria representada pelo grande aumento diário da doença após 50 dias (por volta de 15 de abril) nas cidades centrais. A segunda onda começaria a partir de 75 dias (10 de maio) atingindo as cidades mais isoladas. Em 90 dias, praticamente todas as cidades com aeroportos seriam atingidas.
Outro ponto abordado pelo estudo foi em relação à vulnerabilidade da região amazônica, especialmente em cidades remotas que predominam comunidades indígenas. De acordo com os autores, a cidade de Manaus pode se constituir no centro de espalhamento do coronavírus pelas partes mais remotas da região amazônica e expor, em pouco tempo, grande parte das populações indígenas. O Covid-19 pode ser ainda mais devastador para esses grupos étnicos, que geralmente têm maior suscetibilidade a doenças não nativas. Da mesma forma, cidades e vilas remotas também são as mais expostas a serviços públicos de saúde precários.
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